ARTE NEGRA EM MOVIMENTO: DENEGRINDO O CUBO BRANCO

Stefani Souza de Jesus


Palavras-chave: coletivo, decolonial, negritude, espaço expositivo, pluriversalidade


PT

Licenciada em Artes Visuais pela Universidade Federal de Santa Maria (2023); Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais pela Universidade Federal de Santa Maria (2023 -); Membra do Grupo de Pesquisa Artes Visuais e Criatividade - AVEC (2023 -); Membra do Coletivo Arte Negra em Movimento (2019 -).

Modalidade de participação: presencial.

Eixos temáticos da submissão:
3. Museu e herança colonial
8. Narrativas contra-hegemônicas

O presente resumo é fruto de projeto de pesquisa em andamento no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, pretende narrar conceitos, contextos e atravessamentos que visam compreender brevemente a construção, organização e atuação do coletivo independente Arte Negra em Movimento - ANEM na cidade de Santa Maria–RS. Tencionando questionamentos sobre a relevância de coletivos e compreendendo como a organização destes, surge, enquanto possibilidade estratégica de revisão à ordem hegemônica e epistêmica ocidentalizada do sistema da Arte.

A conceituação do coletivo ANEM está fortemente imbricada ao conceito filosófico da pluriversalidade, trabalhado pelo filósofo brasileiro Renato Nogueira. O exercício filosófico da pluriversalidade, possibilita o reconhecimento epistemológico de que todas as perspectivas de abordar e interpretar os modus operandi devem ser válidas, apontando como equívoco a invisibilidade e o apagamento sistemático de saberes produzidos por grupos minoritários.

O sistema da arte canonizado em um sistema branco, cis gênero, heteronormativo, conservador e eurocêntrico, ocasiona a subalternização e marginalização às demais produções artísticas, que se localizam no exterior desta universalidade ocidental, como: as africanas, afro-diaspóricas, indígenas, asiáticas e oceânicas, por meio, de diferenças raciais (epistemicídio), conceituais (arte erudita x arte popular) e geopolíticas (norte e sul global).

A dinâmica da colonialidade segue nas estruturas culturais contemporâneas, um território, no qual a narrativa ocidental no campo da arte é preservada e em consequência as instituições oficiais do circuito artístico atuam, legitimando, preservando e oficializando determinadas narrativas, em contrapartida, às outras. Deste modo, as instituições, museus, galerias, fundações, etc., podem condicionar a produção artística contemporânea aos códigos simbólicos e estruturais de um ambiente de arte ainda normativa. O cubo branco, espaço que oferece um pano de fundo: limpo, amplo, gelado, iluminado, branco, isento de excessos e vazio. Um lugar sistematicamente embranquecido não apenas em sua estrutura arquitetônica, mas também em sua estrutura epistemológica.

Frente a isto, o espaço expositivo que perpassa reflexões de si e sobre os modus operandi da sociedade, não pode ser posto, enquanto um ambiente neutro e imparcial. Pois os corpos que compõem a sociedade possuem um lugar, que intersecciona questões de raça, gênero e classe. Desse modo, toda exposição pressupõe uma escolha e, portanto, não há neutralidade nos discursos proferidos dentro do cubo branco.

Ao articular, questões de identidade, visibilidade, protagonismo e negritude, nos espaços expositivos institucionais da cidade de Santa Maria–RS, os/as artistas, curadores/as, e pesquisadores/as racializados/as que compõem o coletivo, deslocam-se de modo pluriversal, exercendo o debate contra hegemônico, uma produção epistemológica decolonial, a manutenção e preservação, acerca do que tange a Arte Negra produzida em Santa Maria–RS.



EN

Degree in Visual Arts from the Federal University of Santa Maria (2023); Master's student in the Postgraduate Program in Visual Arts at the Federal University of Santa Maria (2023 -); Member of the Visual Arts and Creativity Research Group - AVEC (2023 -); Member of the Coletivo Arte Negra em Movimento (2019 -).

Participation modality: in person.

Thematic axes of the submission:
3. Museum and colonial heritage
8. Counter-hegemonic narratives

This abstract is the result of an ongoing research project in the Postgraduate Program in Visual Arts at the Federal University of Santa Maria - UFSM, aims to narrate concepts, contexts and intersections that aim to briefly understand the construction, organization and performance of the independent collective Arte Negra em Movimento - ANEM in the city of Santa Maria–RS. Intending questions about the relevance of collectives and understanding how their organization arises as a strategic possibility of revising the hegemonic and Westernized epistemic order of the Art system.

The conceptualization of the ANEM collective is strongly intertwined with the philosophical concept of pluriversality, worked by the Brazilian philosopher Renato Nogueira. The philosophical exercise of pluriversality enables the epistemological recognition that all perspectives of approaching and interpreting the modus operandi must be valid, pointing out as a mistake the invisibility and systematic erasure of knowledge produced by minority groups.

The art system canonized in a white, cisgender, heteronormative, conservative, and Eurocentric system causes the subalternization and marginalization of other artistic productions that are located outside this Western universality, such as African, Afro-diasporic, indigenous, Asian, and oceanic, through racial differences (epistemicide), conceptual (erudite art x popular art), and geopolitical (global north and south).

The dynamics of coloniality continue in contemporary cultural structures, a territory where the Western narrative in the field of art is preserved, and consequently, the official institutions of the artistic circuit act, legitimizing, preserving and officializing certain narratives, in contrast, to others. Thus, institutions, museums, galleries, foundations, etc., can condition contemporary artistic production to the symbolic and structural codes of an art environment that is still normative. The white cube, a space that offers a backdrop: clean, spacious, cold, illuminated, white, free of excesses and empty. A systematically whitened place not only in its architectural structure but also in its epistemological structure.

Given this, the exhibition space that crosses reflections on itself and the modus operandi of society cannot be placed as a neutral and impartial environment. Because the bodies that make up society have a place that intersects issues of race, gender, and class. Thus, every exhibition presupposes a choice, and therefore, there is no neutrality in the speeches made inside the white cube.

By articulating issues of identity, visibility, protagonism, and blackness in the institutional exhibition spaces of the city of Santa Maria–RS, the racialized artists, curators, and researchers that make up the collective move pluriversally, exercising the counter-hegemonic debate, a decolonial epistemological production, the maintenance and preservation, concerning what concerns the Black Art produced in Santa Maria–RS.



Referências

  • CARNEIRO, Sueli. Epistemicídio. Portal Geledés, 2014. Disponível em: https://www.geledes.org.br/epistemicidio/. Acesso em: 08 de abril. de 2024.
  • NOGUERA, Renato. Denegrindo a educação: Um ensaio filosófico para uma pedagogia da pluriversalidade. Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação. n.18, p.62-73, maio-out/2012.
  • O ́DOHERTY, Brian. No interior do cubo branco: A ideologia do espaço da arte. 1a Edição. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
  • PAIVA, Alessandra Simões. A virada decolonial na arte brasileira. 1a Edição. Bauru, SP. Mireveja, 2022.
  • SIMÕES, Igor Moraes. Todo cubo branco tem um quê de Casa Grande: racialização, montagem e histórias da arte brasileira. Revista PHILIA Filosofia, Literatura & Arte. Porto Alegre, v.3, n.1, p.314-329, maio/2021.


Bio


PT
Stefani Souza de Jesus é Licenciada em Artes Visuais pela Universidade Federal de Santa Maria (2023); Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais pela Universidade Federal de Santa Maria (2023 -); Membra do Grupo de Pesquisa Artes Visuais e Criatividade - AVEC (2023 -); Membra do Coletivo Arte Negra em Movimento (2019 -).


EN
Stefani Souza de Jesus is a Degree in Visual Arts from the Federal University of Santa Maria (2023); Master's student in the Postgraduate Program in Visual Arts at the Federal University of Santa Maria (2023 -); Member of the Visual Arts and Creativity Research Group - AVEC (2023 -); Member of the Coletivo Arte Negra em Movimento (2019 -).


GO BACK


^