Conferência Internacional Contra-Imagem 2024


Cultura Visual e Pensamento Ecológico:
re-imaginar as relações no mundo


7, 8 e 9 de Agosto de 2024

Centro de Filosofia e Ciências Humanas
UFSC Florianópolis, Brasil

“Não se trata mais de retomar ou de transformar um sistema de produção, mas de abandonar a produção como único princípio de relação com o mundo. Não se trata de revolução, mas de dissolução, pixel por pixel. (...) Após cem anos de um socialismo que se limitou a pensar a redistribuição dos benefícios da economia, talvez seja o momento de inventar um socialismo que conteste a própria produção. É que a injustiça não se limita apenas à redistribuição dos frutos do progresso, mas à própria maneira de fazer o planeta produzir frutos. (...) Contra a repetição de tudo exatamente como era antes [da pandemia covid 19]."
Bruno Latour, Onde aterrar? (2020, s/ paginação)

"Um território não é apenas um pedaço ou vastidão de terras. Um território traz marcas de séculos, de cultura, de tradições. É um espaço verdadeiramente ético, não é apenas um espaço físico como muitos políticos querem impor. Território é quase sinônimo de ética e dignidade. Território é vida, é biodiversidade, é um conjunto de elementos que compõem e legitimam a existência indígena. Território é cosmologia que passa inclusive pela ancestralidade."
Eliane POTIGUARA, Metade cara, metade máscara ( 2004, p. 105)


As palavras de Bruno Latour sobre a necessidade de abandonarmos por completo o modo de relação com o mundo assente em lógicas de acumulação, de monocultura e de extrativismo, bem como as palavras de Eliane Potiguara sobre o conceito de território são os pontos de partida para o debate que queremos lançar, no campo da imagem e da visualidade, na terceira edição da Counter-Image, em Florianópolis, no Brasil.

Inspirado pela paragem globalizada da maioria dos humanos durante a pandemia de Covid 19, com as imediatas melhorias ambientais sentidas no sistema de vida da Terra – na qualidade das águas, do ar, na diminuição dos níveis de ruído, no aumento do número de seres de diversas espécies – Latour propõe um "regresso à Terra” que não repita os mesmos erros das sociedades ocidentais industrializadas, que é o lugar de onde falamos, e que é responsável pelo modo de vida que ameaça a Terra como suporte de vida. Precisamente, a partir de outro lugar, a partir do mundo indígena que ainda resiste, fala-nos também Eliane Potiguara para contestar, na citação em cima, a concepção ocidental de território que o reduz a mero espaço físico e suporte de recursos materiais. A escritora e investigadora do povo Potiguara, sublinha a dimensão cosmológica de território, lugar da biodiversidade e ancestralidade, numa concepção que não separa humanos dos outros existentes (incluindo aí montanhas e rios que nas epistemologias ocidentais estão fora do vivo).

Uma vez que manter-nos fechados em casa não é solução, urge pensar essas outras abordagens. A crise ecológica tornou-se a questão política premente da atualidade. Como é que as imagens e as representações afetaram/produziram as ideias de ambiente? Como pode a visualidade contribuir para forjar novas epistemologias e ideias sobre ecologia?

Veja aqui o texto completo da Chamada de Trabalhos.

Inscrições


A inscrição é obrigatória, mas não são cobradas taxas para oradores e ouvintes.


Idiomas de trabalho: Português, Inglês e Espanhol.


Estão abertas as inscrições para ouvintes através deste formulário.


A participação nas sessões da conferência é gratuita mas sujeita à disponibilidade das salas.

Cronograma da Conferência


Propostas
18 de março de 2024 30 de março de 2024

Notificação de Aceitação
30 de abril de 2024 18 de Maio de 2024

Inscrição
10 de junho de 2024

Local da Conferência


Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil.




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Programa

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Livro


IMPORTANTE:

- Mantenha-se atento/a ao nosso Instagram para alterações de última hora na programação.

- Oradores/as principais falam em português com tradução simultânea no canal Zoom.

Direção da Conferência


Teresa Mendes Flores - ICNOVA, Lisboa, Portugal
Ana Lúcia Mandelli de Marsillac - UFSC, Florianópolis, Brasil
Margarida Medeiros - ICNOVA, Lisboa, Portugal
Filippo Di Tomasi - ICNOVA, Lisboa, Portugal

Comité Organizativo


Anderson Abreu - UFSC, Florianópolis, Brasil
Andressa Colbachini - UFSC, Florianópolis, Brasil
Amadeu de Oliveira Weinmann - Universidade Federal de Rio Grande do Sul, Brasil
Barbara Bergamaschi - ICNOVA, Lisboa, Brasil
Diogo Bento - CICANT, Lisbon, Portugal
Flávia Gizzi - UFSC, Florianópolis, Brasil
Gerusa Bloss - UFSC, Florianópolis, Brasil
Iacã Macerata - UFSC, Florianópolis, Brasil
Rita Cássia - ICNOVA, Lisbon, Portugal
Sílvio Marcus Correa - UFSC, Florianópolis, Brasil

Comité Científico


Amadeu de Oliveira Weinmann - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Anderson Abreu - Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Andrea Zanella - Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Angela Ferreira, aka Berlinde - Universidade do Minho, Portugal
António Fernando Cascais - ICNOVA, Portugal
Camila Peixoto Farias - Universidade Fernando Pessoa, Brasil
Carla Fernandes - ICNOVA, Portugal
Cláudia Madeira - ICNOVA, Portugal
Daniela Finzi - Diretora do Museu Freud, Áustria

Comité Científico


David Pavón Cuéllar - Universidade Michoacana de San Nicolás de Hidalgo, México
Elizabeth Edwards - Universidade Monfort, Reino Unido
Filipa Duarte de Almeida - Universidade Omar Bongo, Gabão
Filippo Di Tomasi - ICNOVA, Portugal
Gabriel Resende - Universidade Federal Fluminense, Brasil
Hadley Howes - Universidade de Queen's, Canadá
Iacã Macerata - Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Ilda Teresa Castro - ICNOVA, Portugal
Joseph Tonda - Universidade Omar Bongo, Gabão
Káthia Maheirie - Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil

Comité Científico


Laura Smith - Universidade Estadual de Michigan, Estados Unidos
Leticia de Brito Cardoso - Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Lia Vainer - Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Lucienne Martins Borges - Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Márcio Mariath Belloc - Universidade Federal do Pará, Brasil
Maria Luísa Fragoso - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Maria Lucia Macari - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Maria Teresa Cruz - ICNOVA, Portugal
Marita Sturken - Universidade de Nova Iorque, Estados Unidos
Marta Lúcia Pereira Martins - Universidade do Estado de Santa Catarina, Brasil

Comité Científico


Mériti de Souza - Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Mauro Luiz da Silva - Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil
Nuno Miguel Proença - ICNOVA, Portugal
Patricia Hayes - Universidade do Cabo Ocidental, África do Sul
Raquel de Barros Pinto Miguel - Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Richard Cleminson - Universidade de Leeds, Reino Unido
Romy Castro - ICNOVA, Portugal
Salomé Lopes Coelho - ICNOVA, Portugal
Sílvia Pinto Coelho - ICNOVA, Portugal
Susane Vasconcelos Zanotti - Universidade Federal de Alagoas, Brasil

Há uma monocultura extrativista do modo de produzir imagens que performa uma imagética que se propõe como mera representação de um mundo dado, e que tem por efeito uma homogeneização das imagens e, logo, da possibilidade de performar mundos. Como poderemos abordar estas questões?

Que visualidades e/ou contra-visualidades possibilitam re-imaginar e pôr em ação novas formas relacionais não extractivistas e que espécie de relações seriam? Quais os contributos da área da Cultura Visual para o pensamento ecológico e vice- versa? Um dos aspetos que urge fazer ver é o modo como as imagens concebem as relações entre humanos e não humanos e o poder performativo dessas representações na construção de identidades e mundividências. Quando tomamos o questionamento de Latour sobre a produção, podemos acrescentar: qual produção? Qual o modo de produção de imagens? Que política de produção de imagens queremos afirmar?

No modelo eurocêntrico ocidental, tornado cânone no/pelo norte global, o género paisagem codificou a separação moderna entre Cultura e Natureza, entre espectadores de um lado e a imagem de outro, sujeitos e objetos, um de dentro e um de fora, no famoso modelo da “janela Albertina” que descreve o dispositivo simbólico da perspetiva artificialle do Quattrociento europeu como correspondendo a uma imagem que alguém veria quando espreita o mundo lá fora por uma janela. Esta “forma simbólica” (Panofsky), que acompanha o crescimento das cidades (Lefebvre), regula as relações entre espectadores e imagens, partindo da centralidade do humano, e do olho do espectador (“o homem no centro de todas as coisas”). O género paisagem é emblemático do lugar afastado que será atribuído à Natureza nas culturas europeias e ocidentais. A Natureza percepcionada como paisagem é um “pano de fundo”, mesmo quando é tema principal, apreciável esteticamente e apropriável economicamente, como esse todo. As câmaras fotográficas e de filmar automatizam este modelo e contribuíram para transformar a concepção do mundo numa sucessão de “imagens do mundo”(Heidegger), tornando-se uma forma de epistemologia. Por outro lado, a busca por formas de comunicação imersivas que simulassem a fusão na paisagem-todo, tornou-se também um desejo constante.

W.J.T Mitchell afirma que o género paisagem é típico dos imperialismos e “tal como o dinheiro, [a paisagem] é uma cena natural mediada pela cultura. É, simultaneamente, um espaço representado e apresentado, um significante e um significado, um enquadramento e o que o quadro contém, um lugar real e o seu simulacro, um pacote e o produto dentro do pacote” (Landscape and Power, 2002: 5). Natureza e paisagem, como diz Anne Cauquelin em A invenção da paisagem (2015), são conceitos que tendem a confundir-se, o que aumenta as dificuldades da sua crítica.

Mas haverá outros modos de produção de imagens. Eduardo Viveiros de Castro (Metafísicas Canibais, 2018), ao mapear as cosmologias ameríndias, propõe que nestas não se trata, ao conceber a diversidade de modos de vida, de um multiculturalismo (uma natureza, vários pontos de vista sobre ela). Mas antes, um multinaturalismo: a perspectiva cria não representações diferentes de um mesmo mundo, mas múltiplos mundos, multinaturezas. É por essa via que Isabelle Stengers (“Gaia, The Urgency to Think (and Feel)”, 2014) propõe que enfrentemos a intrusão de gaia: se no modo de produção monoculturista-extrativista se subtrai realidade (há somente um mundo-natureza-paisagem a ser representada), devemos ao contrário, acrescentar realidades: “Precisamos aprender a contar outras histórias, nem apocalípticas nem messiânicas, histórias que, em vez disso, impliquem o que Donna Haraway chama de responsabilidade: aceitar que o que acrescentamos faz diferença no mundo e nos tornarmos capazes de responder pela maneira como essa diferença ocorre, pela maneira como, ao fazê-lo, damos nossa sorte a algumas formas de viver e morrer e não a outras” (Stengers, “Gaia, The Urgency toThink (and Feel)”, 2014). Daí a importância que Stengers dá a prática ficcional como “experimentos de pensamento que faltam”. Nesta linha, têm surgido práticas artísticas de contra-imagem, como as que recuperam tecnologias obsoletas e artesanais na produção de imagem, ou as que promovem processos de arquivo e de coleção que desafiam o processo capitalista ou mesmo que denunciam os nefastos ideais neoliberais para as culturas e o meio ambiente.

Nesta terceira edição da Counter-Image, trata-se, em suma, de trazer à reflexão o desafio de acrescentar (à) realidade, de produzir mais imagens que inventem outras políticas cognitivas e imagéticas, que cultivem uma diversidade na natureza e de naturezas.

Nesta Counter-Image queremos debater os cruzamentos entre Cultura Visual e Pensamento Ecológico. Aceitamos propostas para comunicações orais, ateliês de investigação artística, apresentações-performance e outras formas de apresentação, que não excedam os 20 minutos, sobre os seguintes temas, entre outros:

  • Visualidades e Contra-visualidades do pensamento ecológico.
  • Genealogias e arqueologias do pensamento ecológico e do capitalismo.
  • Museus e herança colonial
  • Perspectivas ecológicas e práticas do reparar: produção de conhecimento, cuidado e narrativa.
  • Eco-criticismo e eco-feminismo.
  • Visualidades coloniais e pós-coloniais da ecologia e do capitalismo.
  • Sustentabilidade social e práticas da imagem.
  • Narrativas contra-hegemónicas.
  • Diversidades epistemológicas da contra-visualidade e da contra-narrativa.
  • Dinâmicas de arquivo.
  • Práticas artísticas como estratégia de resistência.
  • Utilização das imagens e processos de origem vernacular na produção artística.
  • Tecnologias obsoletas e artesanais como práticas ecológicas.
  • Estudos Indígenas e Negros

Os resumos devem ser enviados até 18 de março de 2024 30 de março de 2024. São aceites as línguas portuguesa, inglesa e espanhola. Incentivamos propostas de natureza ACADÉMICA, ARTÍSTICA ou HÍBRIDA.
As propostas para comunicações com a duração de 20 minutos devem ser enviadas através da nossa conta Easy Chair, aqui.

Após criar um login, escrever uma proposta para comunicação oral com um máximo de 500 palavras, com 5 palavras-chave e um máximo de 5 referências bibliográficas. As apresentações artísticas/híbridas devem ter em conta a duração máxima de 20 minutos e incluem acções audiovisuais, sonoras ou performativas. Estas propostas devem ser acompanhadas de um pequeno excerto de 3-4min. e/ou de uma descrição ilustrada, juntamente com o resumo, as palavras-chave e as referências bibliográficas anteriormente mencionadas. Em todos os casos, deve ser enviada uma nota biográfica separada. Certifique-se de que o seu nome não é mencionado em nenhuma parte do resumo. As propostas serão seleccionadas através de um sistema de avaliação cega por pares. As sessões serão organizadas com base em afinidades temáticas, independentemente da sua natureza (académicas/artísticas/híbridas); todos os trabalhos serão considerados resultados académicos igualmente válidos. Os candidatos seleccionados serão Contatoados até sexta-feira, 30 de abril de 2024.

Os trabalhos ou ensaios visuais poderão ser submetidos a um número especial de uma revista académica (a anunciar).
Angela Berlinde

O website desta edição de 2024 apresenta fotografias da artista Ângela Berlinde, a partir do seu trabalho Transa (2020). Agradecemos a generosidade da artista.

BIOGRAFIA

Ângela Berlinde (aka Berlinde, Porto, 1975) é artista, curadora e investigadora com doutoramento em Comunicação Visual sobre fotopintura e autorrepresentação das nações indígenas, na Universidade do Minho, Portugal. É formada em Estudos Curatoriais e concluiu o Mestrado em Fotografia na Utrecht School of Arts-Holanda. Tem o Pós-doutoramento na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil, desenvolvendo estudos sobre práticas visuais contemporâneas que problematizam as formas híbridas da Fotografia. Bio Link

PROJETO
TRANSA, Baladas do último sol de Ângela Berlinde

Na vastidão da floresta amazónica, TRANSA convida-nos para uma dança estética e existencial através do hibridismo da fotografia e surpreende-nos com mitos e contos indígenas, como o de Iracema, a "virgem dos lábios de mel” do romance de José de Alencar, numa personificação da graça criativa e fecundadora da natureza. TRANSA surge como reflexão sobre a existência contemporânea, ameaçada pelo limbo e brutalidade dos processos de colonização que agora se revertem. A Terra, neste tempo suspenso, parece ecoar um grito surdo que agrega todas as forças civilizatórias juntas - as repressoras e as subalternas, as da história maioritária e as minorias, a mulher, o negro, o indígena, o colonizador.
Link do Projeto

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