Palavras-chave: Outra Tempestade, Cabo Verde, Furacão do Tipo Cabo Verde, Era Pós-antropocénica, Eco-Performance.
A peça Outra Tempestade (2023), desenvolvida pelo Teatro da Garagem e inspirada pelo clássico de Shakespeare, (Tempestade, 1610-1611) e da peça Uma Tempestade de Aimé Césaire (1968), que teve estreia no Festival Mindelact em Cabo Verde, inicia-se com um retrato performativo, um tableu vivant. Do escuro do palco emergem figuras com as suas bocas contorcidas num grito de desespero inaudível. O retrato humano da experiência do naufrágio. A imagem expande-se no tempo numa suspensão que condensa em si o longo capítulo introdutório de Shakespeare onde todos os que navegam num barco, marinheiros, príncipes e reis, se igualam no medo da morte numa tempestade no mar. Essa imagem- síntese incorpora, também, todos os naufrágios, nomeadamente, os produzidos pela longa história do colonialismo. O livro de Paul Gilroy The Black Atlantic - Modernity and Double Consciousness (1995) dá palco ao mar como memorial do naufrágio, como um dos lugares da escravatura. Outra tempestade (2023), segue diversos caminhos dramatúrgicos e podemos até afirmar que esse sentido do naufrágio se perdeu no desenrolar do enredo. As personagens tal como nos textos de Shakespeare e Césaire sobrevivem, mas transformam-se. Se Césaire já tinha convertido Caliban no símbolo de uma luta de emancipação, esta Outra Tempestade do Teatro da Garagem, seguindo os desígnios de Silvia Federici no seu livro traduzido para português em 2019 como Calibã e a Bruxa, procurou emancipar também Miranda, essa personagem que permanece imutável em quase todas as interpretações da Tempestade de Shakespeare, dando-lhe voz e poder sobre o seu território, sobre o seu corpo e as suas escolhas. Este processo, contudo, não termina com “final feliz” porque se antevê uma outra tempestade real, um verdadeiro naufrágio no horizonte. Esta conferência performativa inicia-se nesse punctum, da possibilidade de estarmos na iminência de uma tempestade real com impactos globais, tendo por base o fenómeno meteorológico conhecido como Furacão do Tipo Cabo Verde - que os cientistas localizam e classificam de uma forma e os pescadores locais, em Cabo Verde, que têm vindo a sentir as alterações climáticas no seu modo de vida, entendem de forma diferente. Este ponctum que oscila entre a “exatidão científica” e a “experiência de vida”, onde se prevê que possa emergir importantes transformações climatéricas com impacto global - é o mote para a criação de um ponto geográfico especulativo, imaginário e ficcional que nos permitirá problematizar as implicações históricas, políticas, sociais e, consequentemente, artísticas da urgência de uma Era Pós-antropocénica, tendo por referência as perspectivas de autores como T.J.Demos (Decolonizing Nature, 2016) ou Bruno Latour (Down to Earth: Politics in the New Climatic Regime, 2018), entre outros. Esta conferência-performance terá por base um conjunto de entrevistas desenvolvidas a pescadores locais, a mulheres que trabalham nas lotas em Cabo Verde, e a cientistas que têm vindo a analisar este fenómeno, assim como uma reflexão sobre o tema a partir não só das suas inerentes problemáticas ecológicas e coloniais, como também de uma especulação em torno de potenciais respostas à questão: “o que virá depois da farsa?”
Cláudia Madeira (1972), is an Assistant Professor at the Faculty of Social and Human Sciences at Universidade Nova de Lisboa. Deputy coordinator of the Performance & Cognition research group at ICNOVA - NOVA FCSH; IHA collaborator at NOVA FCSH; and responsible for the Performance Art & Performativity in the Arts cluster. She also collaborates as a researcher in the Theater and Image group, at the FLUL Theater Studies Center. She completed a post-doctorate entitled Social Art. Performative Art? (2009-2012) and a PhD in Sociology on Hybridity in the Performing Arts in Portugal (2007) at the Institute of Social Sciences of the University of Lisbon. In her doctoral thesis, she developed an in-depth analysis of new Portuguese dance and new theater, having dedicated a chapter to the history of Portuguese performance art. She is the author of the books Performance Art in Portugal (Routledge 2023), Arte da Performance Made In Portugal (ICNOVA 2020), Híbrido. From Myth to Invasive Paradigm? (Mundos Sociais, 2010) and New Notables: The Cultural Programmers (Celta, 2002). She has written several articles on new forms of hybridity and performativity in the arts, teaches undergraduate and master's degrees in Performing Arts and Communication and Arts in the Department of Communication Sciences at NOVA/FCSH.
Sofia Berberan (1980). She has a degree in Philosophy from FCSH/UNL and a Professional Photography course from the Portuguese Institute of Photography. She is the curator of the TRIPÉ Project, in Cape Verde. Of her artistic work, the site-specific exhibitions "Burning with desire to see your experiments from nature" (with Coletivo Imagerie) and "lo-fi (lost fictions)" stand out, where she explores the intersection of botany and visual arts, and "Library of Unseen Images". She was an artistic consultant on the project "PRETA", by Gio Lourenço, presented at the Holland Pavilion at the 2021 Venice Architecture Biennale, as part of which she created the photographic project "Botany Memory" for the Exploratorium catalogue. He created the show "Boca, Fala, Tropa" with Gio Lourenço.
Raquel Rodrigues Madeira (1984), researcher at ICNOVA - NOVA Communication Institute, GI Performance & Cognição and LEC (Performing Arts Laboratory); Dancer and Performer. PhD student in Communication Sciences (specialty in Communication and Arts) at FCSH - NOVA University of Lisbon, where she is developing the project entitled "From the Internet to Dance stages: participation, intermediality and new collaborations between the physical and the digital", with the support of a PhD Scholarship (ref. 2020.06202.BD) granted by FCT (Foundation for Science and Technology). Master in Performing Arts from FCSH - NOVA University of Lisbon and degree in Dance from Escola Superior de Dança (ESD-IPL). She was distinguished in 2021 with the 'Studying Dance' Prize, awarded by the DGPC through the National Theater and Dance Museum, with the sponsorship of the Millennium BCP Foundation, for the research developed in the thesis entitled "Dance and Internet - connectivity and participation in creation choreographic" (2019). Co-editor of the CRATERA website, from GI Performance & Cognição. Member of the European Association for the Study of Theater and Performance (EASTAP) since 2019; and the Dance Studies Association (DSA) since 2020.
Cláudia Madeira (1972), é Professora Auxiliar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Vice-coordenadora do grupo de investigação Performance & Cognição do ICNOVA - NOVA FCSH; colaboradora do IHA da NOVA FCSH; e responsável pelo cluster Performance Art & Performativity in the Arts. Colabora ainda como investigadora do grupo Teatro e Imagem, do Centro de Estudos de Teatro da FLUL. Realizou o pós-doutoramento intitulado Arte Social. Arte Performativa? (2009-2012) e o doutoramento em Sociologia sobre Hibridismo nas Artes Performativas em Portugal (2007) no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Na sua tese de doutoramento desenvolveu uma análise aprofundada sobre nova dança portuguesa e novo teatro, tendo dedicado um capítulo à história da arte da performance portuguesa. É autora dos livros Performance Art in Portugal (Routledge 2023), Arte da Performance Made In Portugal (ICNOVA 2020), Híbrido. Do Mito ao Paradigma Invasor? (Mundos Sociais, 2010) e Novos Notáveis: Os Programadores Culturais (Celta, 2002). Escreveu vários artigos sobre novas formas de hibridismo e performatividade nas artes. Lecciona na licenciatura e mestrados de Artes Cénicas e Comunicação e Artes do Departamento de Ciências da Comunicação na NOVA/FCSH.
Sofia Berberan (1980). É licenciada em Filosofia pela FCSH/UNL e tem o curso de Fotografia Profissional pelo Instituto Português de Fotografia. É curadora do Projeto TRIPÉ, em Cabo Verde. Do seu trabalho artísticos destacam-se as exposições site-specic "Burning with desire to see your experiments from nature" (com o Coletivo Imagerie) e "lo-fi (lost fictions)", onde explora o cruzamento da botânica com as artes visuais, e "Biblioteca das Imagens Não Vistas". Foi consultora artística no projecto "PRETA", de Gio Lourenço, apresentado no Pavilhão da Holanda na Bienal de Arquitectura de Veneza de 2021, no âmbito do qual criou para o catálogo Exploratorium o projecto fotográfico "Memória Botânica". Criou com Gio Lourenço o espetáculo "Boca, Fala, Tropa".
Raquel Rodrigues Madeira (1984), investigadora do ICNOVA - Instituto de Comunicação da NOVA, do GI Performance & Cognição e LEC (Laboratório de Artes Cénicas); Bailarina e Performer. Doutoranda em Ciências da Comunicação (especialidade em Comunicação e Artes) na FCSH - Universidade NOVA de Lisboa, onde se encontra a desenvolver o projeto intitulado "Da Internet aos palcos da Dança: participação, intermedialidade e novas colaborações entre o físico e o digital", com o apoio de Bolsa de Doutoramento (ref. 2020.06202.BD) concedida pela FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia). Mestre em Artes Cénicas pela FCSH - Universidade NOVA de Lisboa e licenciada em Dança pela Escola Superior de Dança (ESD-IPL). Foi distinguida em 2021 com o Prémio 'Estudar a Dança', atribuído pela DGPC através do Museu Nacional do Teatro e da Dança, com o patrocínio da Fundação Millennium BCP, pela investigação desenvolvida na tese intitulada "Dança e Internet - conetividade e participação na criação coreográfica" (2019). Co-editora do site CRATERA, do GI Performance & Cognição. Membro da European Association for the Study of Theatre and Performance (EASTAP) desde 2019; e da Dance Studies Association (DSA) desde 2020.