Palavras-chave: Assentamento, Humaitá, Exú, Jogo, Lugar Cruzado
The article is based on a poetic, photographic, and projective essay, operated from my experience as an Umbandist-Artist-Researcher. Using a language intertwined with architectural points, I conceptually operate strategies of dispute with official history, having terreiro religion and epistemology as an imagetic repertoire, and using montage and game as operative procedures. Among the languages used are photography, projective drawing, and objects for montages, such as horses, shells, models, and other elements. These incorporate notions and concepts such as Settlement, Humaitá, Exú, and the game about what I call a crossed place.
The approach of this article is at the crossroads between fields such as architecture, anthropology, art, and religion, whose narrative and epistemological propositions are bathed in dendê. The research crosses a paradigmatic place of alterity simultaneously implicated from within and outside the Umbanda terreiros, as a medium and artist. The writing begins with the reflective structure of what I title the ethics and aesthetics of the despacho, presenting the textual language structure derived from terreiro practices to introduce the research and the words addressed throughout the text.
I list a vocabulary present in Umbandas, Quimbandas, and Batuque from southern Brazil, such as “Humaitá,” “settlement,” and other fields, such as the terms “floor plans” and “foundations,” to poetically create a linguistic and imagetic game. I therefore broaden the notions of “settlement,” linked to the process of making entities and Orixás, to the word seat, moving from the semantic field to the associative, in elaboration of connections between the mentioned fields of study. Humaitá, in turn, is the battlefield and montage itself, referencing the sung points of Umbanda for Ogum, the warrior entity.
As a building technician and interested in the urban construction process of cities, specifically the city of Porto Alegre/RS, I operate in the erasure of official history from the perspective of overlapping temporalities and distinct Afro-diasporic spaces erased from the urban context. Parque Farroupilha, popularly known as Parque da Redenção, is one of these spaces whose floor plan is transformed into a piece for small-scale montages, as well as the front pillars of the São Miguel das Missões Church are transformed into objects for a balance game, where the elements are stacked, with photography as the proposal’s aim.
In the process of dispute and tension, through montages, I create disruptive narratives using Walter Benjamin’s concept of history intertwined, by historian Luiz Antonio Simas, with the notion of Exú with his most popular aphorism “Exú killed a bird yesterday with the stone he threw today.”
Other authors are also references for the research, such as educator Luiz Rufino, philosopher Rafael Haddock-Lobo, and Muniz Sodré. With these theoretical references, I employ interdisciplinary notions for poetic construction, reflecting on the geographical and social space as foundational elements of cultural, political, and religious relations and manifestations in a battlefield, in game and dispute, that is, Humaitá, in close reference to the eponymous battle.
O artigo parte de um ensaio poético fotográfico e projetual, operado a partir de minha vivência enquanto Umbandista-Artista-Pesquisador. Em uma linguagem cruzada com pontos arquitetônicos, opero conceitualmente estratégias de disputa com a história oficial tendo a religião e epistemologia de terreiro como repertório imagético, a montagem e o jogo como procedimentos operatórios. Dentre as linguagens utilizadas estão a fotografia, o desenho projetual e os objetos para montagens, como cavalos, búzios, maquetes, entre outros elementos. Nelas estão incorporadas noções e conceitos como Assentamento, Humaitá, Exú e jogo sobre o que chamo de lugar cruzado.
A Abordagem deste artigo está na encruzilhada entre campos como arquitetura, antropologia, arte e religião cujas proposições narrativas e epistemológicas são banhadas em dendê. A pesquisa cruza um lugar paradigmático de alteridade ao mesmo tempo implicada a partir de dentro e fora dos terreiros de Umbanda, como médium e artista. A escrita inicia pela estrutura reflexiva do que intitulo de ética e estética do despacho, apresentando a estrutura de linguagem textual advinda das práticas de terreiro para introdução à pesquisa e às palavras abordadas ao longo do texto.
Elenco um vocabulário presente nas umbandas, quimbandas e batuque desde o sul do Brasil como “Humaitá”, “assentamento” e de outros campos, como os termos “plantas baixas” e “fundações”, a fim de criar poeticamente um jogo linguístico e imagético. Amplio, portanto, as noções de “assentamento”, vinculada ao processo de feitura de entidades e Orixás, à palavra assento, partindo do campo semântico para o associativo, em elaboração de conexões entre as áreas de estudos mencionadas. Humaitá, por sua vez, é o próprio campo de batalha e de montagem, faz referência aos pontos cantados de umbanda para Ogum, a entidade guerreira.
Como técnico em edificações e interessado no processo urbanístico de construção das cidades, especificamente a cidade de Porto Alegre/RS, opero na rasura da história oficial a partir da perspectiva de sobreposições de temporalidades e espaços distintos afro diaspóricos apagados do contexto urbano. O Parque Farroupilha, conhecido popularmente como Parque da Redenção, é um desses espaços cuja planta baixa é transformada em peça para as montagens em pequena escala, bem como os pilares frontais da Igreja de São Miguel das Missões são transformados em objetos para um jogo de equilíbrio, onde os elementos são empilhados, tendo a fotografia como finalidade da proposta.
No processo de disputa e tensão, através das montagens, realizo narrativas disruptivas utilizando o conceito de história de Walter Benjamin enlaçado, pelo historiador Luiz Antonio Simas, à noção de Exú com seu aforisma mais popular “Exú matou um pássaro ontem com a pedra que lançou hoje”.
Outros autores também são referências para a pesquisa, como pedagogo Luiz Rufino, o filósofo Rafael Haddock-Lobo e Muniz Sodré. Com esses referenciais teóricos lanço mão de noções interdisciplinares para a construção poética refletindo sobre o espaço geográfico e social como elementos fundantes das relações e manifestações culturais, políticas e religiosas em um campo de batalha, em jogo e em disputa, ou seja, Humaitá, em estreita referência à batalha homônima.
Umbandist-artist-researcher, master's student in Visual Poetics at the Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS), Rafael graduated with a degree in Visual Arts from the same university. He is a Poetics of Participation research group (UFRGS) member. Graduated with a Building Technician course at the Parobé State Technological Centre (CTE Parobé), his works are in the Federal University of Health Sciences of Porto Alegre (UFCSPA) collection, University of Porto Alegre (UFCSPA) and Feevale University. He is interested in the anthropology and ethnography of religions of African origin in Brazil and studies terreiro epistemologies for poetic creation in the visual arts with installation visual arts, photographic and projection procedures.
Umbandista-artista-pesquisador, mestrando em Poéticas Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Graduado em Artes Visuais pela mesma Universidade (IA/UFRGS). Integrante do grupo de pesquisa Poéticas da Participação (UFRGS). Possui formação no curso Técnico em Edificações pelo Centro Tecnológico Estadual Parobé (CTE Parobé). Possui obras em acervo da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e na Universidade Feevale. Possui interesse em antropologia e etnografia de religiões de matrizes africanas no Brasil e estuda epistemologias de terreiro para criação poética em artes visuais com procedimentos instalativos, fotográficos e projecionais.