High Summer de John Goto – variações estéticas@ tempos e espaços diversos

Maria de Fátima Lambert


Palavras-chave: John Gotto, Estética em High Summer, Jardins paisagísticos Ingleses, Ideologia e Utopia, Villa Durazzo Pallavicini, Afinidades e Simulacros


No verão passado, John Gotto (1949-2023) abandonou a paisagem terrena de Oxford, ascendendo a um jardim paisagístico utópico. Entre 1996 e 2001, o fotógrafo radicado em Oxford desenvolveu o projeto foto-digital UKADIA que incluiu as séries “Capital Arcade”, “High Summer” e “Gilt City”. Esta pesquisa foca-se nas quinze imagens de “High Summer”, recorrendo a uma abordagem teórica multidisciplinar para elucidar as questões que subjazem a esta iconografia da paisagem construída. Perspetiva-se sob variantes de narrativas analítico-críticas, num vaivém entre o real e o representado, equacionadas na estética dos jardins (séculos XVII e XVIII), também sob auspícios da antropologia sociocultural e simbólica. Entre 2002 e 2008, tanto no contexto académico como artístico, manteve-se contacto direto com John Goto, absorvendo as ideias que partilhava. Em “High Summer”, o ambiente idealizado e utópico dos jardins paisagísticos ingleses, decorados na estética aristocrática e, aqui ponderados sob égide da querela de gosto (Edmund Burke, David Hume e Emmanuel Kant), suscita - na atualidade – contra-leituras ideologias geopolíticas, ao impulsionar asserções ecossistémicas. Que, aliás, John Goto (re)identificou, assim orientando as suas composições reconstrutivas e reparadoras, em prol de uma iconografia questionadora. Ao assumir/aplicar procedimentos digitais, quando, então, se levantavam vozes em defesa da fotografia analógica, acentuou, ainda mais, a noção desconstrutiva que caracteriza a sua estética. “High Summer” pode ser assumido enquanto manifesto polissémico, expondo a excentricidade estética da alta cultura ao mesmo tempo que examina sua anatomia. Destacam-se elementos visuais específicos que integram as suas produções fotográficas, sob a desígnio de Et in Arcadia Ego. No presente estudo, metodologia deveu-se compósita: foi realizado o estudo iconográfico/iconológico de “High Summer”; atendeu-se a textos específicos de John Goto e reflexões de outros autores sobre a sua obra. Por outro lado, a metodologia histórica centrou-se em estudos sobre topiária e arquitetura de jardins a partir do século XVII, repercutindo nos dois séculos seguintes, nomeadamente ao considera teóricos pioneiros europeus como Ercole Silva, John James, Joshua Major ou Stephen Switzer. Por outro lado, reivindicou-se a experiência pessoal da pesquisadora na aproximação aos jardins paisagísticos, pois se visitaram as paisagens oxfordianas (Brettom, Rousham e Blenheim - 1997, 2008), contrastadas, anos depois, ao conhecer o parque de Villa Durazzo Pallavicini em Pegli (Génova, Itália) - manifestamente articulável aos jardins paisagísticos ingleses evocados em “High Summer”. Infelizmente, ainda não foi possível visitar Stowe (Buckinghamshire) e Stourhead (Wiltshire), locais na proximidade de Oxford que direcionaram a construção fotográfica decidida por Goto. A experiência presencial vê-se um contributo relevante. Assim, esta pesquisa subsiste, para reconhecer/detetar in situ, as especificidades de simulacros e afinidades quanto (des)similaridades (Baudrillard) que validem as coincidências de gosto estético e social-crítico nos jardins paisagísticos como afirmações lúcidas no cenário sociopolítico. Atribuiu-se primazia a compreensões pictóricas e teóricas, que elucidam a artisticidade e a estética destes jardins históricos: sinalizando-se arquitetos pioneiros como Capacity Brown e Horace Walpole, que, por sua vez, seguiram as pinturas de Claude Lorrain e Nicolas Poussin - autores assinalados por John Goto –tendo-se referência, ainda, de iconografias de paridade vistas em Alexander Cozens, Jacob Van Ruysdael e Caspar David Friedrich ou Constable, caso da locaização de árvores na composição. Após a criação de Brown, recorde-se que Turner, por sua vez, visitou o parque de Blenheim em busca de inspiração. Quanto a grupos figurativos a habitarem as imagens de Goto, a visão crítico-ironista de William Hogarth sobre a aristocracia, visibiliza a fusão dos eixos que garantiam a lógica da counter-image desejada pelo fotógrafo. Diferentes plataformas e/ou counter-layers, de teor desconstrutivo que se entrecruzam: a composição pictórica histórica, o desenho arquitetónico da paisagem e o alinhamento sócio histórico e ideológico implícitos. Tais pesquisas conduziram, também, ao desenvolvimento de um ensaio visual baseado numa perceção estética direta, consolidada na vivência ponderada sobre iconografias da paisagem, assim equacionando a leitura societal da estética - utopia e ideologia - dos jardins paisagísticos nos séculos XVIII e XIX, em contexto aproximativo/interpretativo atualizado.


Referências



Biografia


Maria de Fátima Lambert

Doutoramento em Estética (1998): Princípios Filosóficos da Estética de Almada Negreiros; Mestrado em Filosofia (1986): A Estética de Fernando Pessoa e o Modernismo Português - – Faculdade de Filosofia de Braga/UCP. Bolseiro de Investigação FCT Escrever e Ver: 2000- 2004. Professora Catedrático de Estética e Educação - Escola Superior de Educação/Politécnico do Porto, com a aula: Antropologia e Iconografia do Corpo (2000). Direcção do Centro Cultural Politécnico do Porto (2022/…); Presidente do Conselho Científico (1998-2004). Diretora (2014-2017) e Membro Titular do Centro de Investigação e Inovação em Educação (InED-FCT). Membro da Comissão Científica: IHA-FCSH/UNL (2011-2017); MIDAS (POR); Visuais /UNICAMP (BR), Asparkía/ Universitat Jaume I (ES); Rev. EARI/Universidade Valência (ES); Rev. Pós-Limiar/PUC-Campinas (BR); Rev. Diferents-Museum de Arte Contemporânea V.A.C. V./Valência (ES); Revista História da Sociedade e da Cultura/ Universidade de Coimbra (POR). Avaliadora Especialista - Agência Portuguesa de Avaliação do Ensino Superior A3eS. Orientadora: Mestres, Doutores e Pós-Doutorados e Bolsistas de Pesquisa. Membro da AICA (Portugal); ENCATC (Bruxelas); Universidade Atenas; ELIA e SEyTA. (Espanha). Curadora independente desde 1994: programação de Arte Brasileira e Portuguesa. Keynote Speaker em eventos científicos/culturais; autora de livros/textos em revistas científicas.


Maria de Fátima Lambert

PhD Aesthetics (1998): Philosophical Principles of Aesthetics of Almada Negreiros; Master Philosophy (1986): Fernando Pessoa Aesthetics and the Portuguese Modernism - – Faculty of Philosophy of Braga/UCP. Research fellow FCT Writing and Seeing: 2000- 2004. Full Professor Aesthetics and Education - School of Education/Polytechnic Porto, with the lesson: Anthropology and Iconography of Body (2000). Board of Cultural Centre Polytechnic of Porto (2022/…); President of Scientific Board (1998-2004). Director (2014-2017) and Full Member of Center for Research and Innovation in Education (InED-FCT). Scientific Committee Member: IHA-FCSH/UNL (2011-2017); MIDAS (POR); Visuals /UNICAMP (BR), Asparkía/ Universitat Jaume I (ES); Rev. EARI/Universitat València (ES); Rev. Post-Threshold/PUC-Campinas (BR); Rev. Diferents-Museum Contemporary Art V.A.C. V./Valencia (ES); Journal History of Society and Culture/ University Coimbra (POR). Specialist Evaluator - Portuguese Agency for Higher Education Evaluation A3eS. Supervisor: Master, Doctoral and Post-Doctoral Degrees and Research Fellows. Member of AICA (Portugal); ENCATC (Brussels); Athena University; ELIA and SEyTA. (Spain). Independent curator since 1994: programming Brazilian and Portuguese Art. Keynote Speaker at scientific/cultural events; author of books/texts in scientific journals.


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