Narrar a história desde uma perspectiva contra-hegemônica: diálogos entre obras de Andrea Giunta e Eliane Brum

Gerusa Morgana Bloss


Keywords: Andrea Giunta; Eliane Brum; Arte contemporânea; Anacronismo; Narrativas contra-hegemônicas.


Se o anacronismo das imagens pode ser orientador para a composição de um agenciamento da história (Didi-Huberman, 2006) que aponta para o movimento do desejo (Freud, 1976 [1908]), temos o desafio, também, de constituir algumas referências que permitam essa construção. A ideia de uma montagem (Didi-Huberman, 2007) reconfigura traços da experiência e abre perspectivas dialéticas. Colocar em diálogo obras de Andrea Giunta e Eliane Brum coloca-se, assim, como movimento propulsor de novos agenciamentos. Em “Contra el Canon: el Arte Contemporáneo en un Mundo Sin Centro” (2020), a professora de artes e curadora argentina Andrea Giunta convida-nos a perscrutar as mudanças pós-guerra ocorridas no âmbito das artes visuais. Noções como centro e periferia são desestabilizadas para que a lógica das simultaneidades possa se constituir em um paradigma entre as poéticas expressas em diferentes partes do mundo, balizando a configuração de outras lentes de leitura da história. Trata-se de uma historiografia latino-americana das imagens e das tramas que as envolvem, balizadas pelo conceito de “vanguardas simultâneas” (Giunta, 2020). Em “Banzeiro Òkòtó: Uma viagem à Amazônia Centro do Mundo” (2021), a jornalista brasileira Eliane Brum traça formas outras às experiências que a atravessaram morando na Amazônia e convivendo com os verdadeiros guardiões da possibilidade de sobrevivência em um mundo que está caminhando a passos rápidos para um colapso ambiental. Os indígenas e a floresta são os principais guias para buscar um reestabelecimento diante da crise global que se acentua (Brum, 2021). Relocalizar o centro se repete em diferentes perspectivas, portanto. Uma para desorientar pontos rígidos de uma narrativa, outra em localizar onde está o centro para que se possa fazer dele a questão urgente de nosso tempo. Abrir espaço para a diversidade da história significa, nesse sentido, outros modos de agenciamento coletivos para que as questões atuais possam seguir vivas, pulsantes, e delas possa advir tanto novas metáforas à humanidade quanto a possibilidade mesma de sua sobrevivência. Urge que possamos contar a história e dela tornarmo-nos participantes ativos. É esse o convite que ambas as autoras nos fazem e que busco articular para que sigam a orientar os fazeres e pesquisas de nosso tempo.


Referências

  • BRUM, Eliane. Banzeiro Òkòtó: Uma Viagem à Amazônia Centro do Mundo. 1a ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.
  • DIDI-HUBERMAN, G. Ante el tiempo: historia del arte y anacronismo de las imágenes. Buenos Aires: Adriana Hidalgo, 2006.
  • DIDI-HUBERMAN, G. Un conocimiento por el montaje. Entrevista concedida a Pedro G. Romero. Minerva, Madrid, n. 5, p. 17-22, 2007.
  • FREUD, S. Escritores criativos e devaneio [1908]. In: SALOMÃO, J. (org.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. IX, p. 147-158.
  • GIUNTA, Andrea. Contra el Canon: El arte contemporáneo en un mundo sin centro. 1a ed. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores, 2020.


Nota Biográfica


Gerusa Morgana Bloss
Psicanalista. Psicóloga - graduada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Mestre e Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Atualmente realizo o pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFSC, atuando como professora colaboradora.


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