Palavras-chave: Contaminações, Fotografia, Fungos, Impermanência, Simpoiese
A série Estudos sobre fungos & montanhas é um desdobramento de minha pesquisa de mestrado na área de Poéticas Visuais (PPGAV/UFRGS). O estudo intitulado A Poética dos Fungos busca experimentar uma linguagem fotográfica em conjunto com os fungos como um de seus agentes criadores, por meio de sua propagação sobre fotografias impressas, tendo como base teórica o conceito de simpoiese proposto por Donna Haraway. Em sua própria ontologia, com suas características de decompor e de transformar a matéria, os integrantes do Reino Fungi atuam como organismos de interação entre a vida e a morte.
Como sugere Donna Haraway, ainda é tempo de levantar novos termos que possam abrigar outras histórias, imaginar épocas que possam reconstituir refúgios para todos os seres, humanos e não humanos. Em contraponto, ou complemento, ao antropoceno, Haraway propõe o termo chthuluceno, e sugere pensar em formas de fazer-com, tornar-com: é nesse sentido que acontece meu trabalho em cocriação com os fungos.
As imagens fotográficas escolhidas para a série foram feitas na região da Cordilheira dos Andes, no Peru, tendo as geleiras no pico das montanhas como uma imagem que marca o atual período de aquecimento global em que vivemos. A escolha de cocriar com fungos sobre a imagem das montanhas se deu com o objetivo de jogar com as escalas micro e macro, para pensar a importância de considerar os seres ínfimos e sua capacidade de transformar. Ao induzir a propagação dos fungos sobre minhas imagens fotográficas, contamos juntos novas histórias e criamos novas possíveis paisagens.
Vejo o movimento dos fungos sobre as fotografias como um movimento, de alguma forma, também utópico, como uma imagem que representa as ruínas dos saberes instituídos. A pesquisa e o desenvolvimento da série também refletem sobre a própria fisicalidade da arte. Como poderia a fotografia eternizar a impermanência, se ela mesma, em sua fisicalidade, está inserida nos fluxos da matéria?
Na mesma medida em que seres ínfimos e silenciosos como os fungos me causam certo espanto por sua capacidade de decompor, eles soam como uma possibilidade de continuidade. Se a mudança é o que há de mais estável no mundo, os seres que decompõem são a garantia de que, depois dos humanos, o planeta seguirá seus próprios fluxos, com tantos outros habitantes, espécies e reinos. Toda a matéria será transformada e renovada para novas invenções: o fim do mundo retroprojeta um início do mundo. Toda a vida que sobrar, seguirá existindo — porque, na lógica dos fluxos da matéria no mundo, decompor é recompor.
Tuane Eggers is a PhD student in Visual Poetics at UFRGS, a master in Visual Poetics from the same institution (2021) and a journalist at Univates (2015). Her work in visual arts is focused on photography, with themes related to the flows and impermanence of life. In her current research, she investigates relationships of symbiosis, coexistence and co-creation, in an attempt to emotionally rescue the knowledge of networked life. She has five independent photobook publications. Her work has been exhibited in countries such as Japan, Germany, Argentina and Russia. In addition to photography, she also works in the audiovisual field.
Tuane Eggers é doutoranda em Poéticas Visuais na UFRGS, mestre em Poéticas Visuais pela mesma instituição (2021) e jornalista pela Univates (2015). Seu trabalho nas artes visuais é focado na fotografia, com temas relacionados aos fluxos e à impermanência da vida. Em sua pesquisa atual, investiga relações de simbiose, coexistência e cocriação, na tentativa de resgatar emocionalmente o conhecimento da vida em rede. Possui cinco publicações independentes de fotolivros. Seu trabalho já foi exibido em países como Japão, Alemanha, Argentina e Rússia. Além da fotografia, também trabalha no campo audiovisual.