Cinemar e a Casa Jangada

Bruna Pinna, Helena Lessa, Marcia Medeiros

Palavras-chave: Cinema de grupo; clínica; criação; dispositivo; cidade.


PT

Apresentamos o Cinemar, uma experiência de trabalho prático que vem se realizando desde agosto de 2019 em um espaço clínico transdisciplinar no Rio de Janeiro, a Casa Jangada. Trata-se de um grupo composto por artistas, clínicos, pacientes de consultório, usuários de saúde mental da Casa ou qualquer pessoa interessada em olhar estranhamente o mundo e entrar em processos criativos de forma coletiva. O Cinemar acontece, semanalmente, com o intuito de tomar o cinema - ou a criação de imagens e sons - como um disparador de encontros, vizinhanças e deslocamentos de percepção. Andanças pelo bairro ou pelo quarteirão são formas frequentes de intensificar a relação com os signos e os elementos presentes neste território e transformá-los em materiais e estímulos para a criação. Inspirado na prática de cinema de grupo, utilizamos dispositivos - também chamados de jogos ou exercícios de criação - que buscam tanto o fortalecimento de ligações e interações dentro do grupo quanto a abertura para fora dele. O cinema aqui, em sua relação direta com a experiência clínica, não opera como uma expressão do indivíduo ou como representação de ideias, mas como a possibilidade de entradas em um movimento inventivo, de si e do mundo: contra-imagens. Os dispositivos podem ser fotos, sequências de fotos, sons, textos, um único plano de vídeo, cenas ficcionadas, etc que perturbam regimes sensíveis do corpo e da organização racional daquilo que percebemos, nos coloca em uma relação de transbordamento dos sentidos e significados da realidade, onde o nonsense aparece como uma produção incontornável de riso e de alegria. O sentido de coletivo se intensifica na medida em que cada dispositivo produz novas derivações, num processo que vai dissolvendo a noção de autoria. Como no exemplo a seguir: 1- cada um faz uma foto de texturas da esquina da Casa/ 2- vemos juntos as fotos / 3- cada um grava um som de textura / 4- juntamos as fotos e sons numa sequência de vídeo / 5- criamos uma instalação com celulares colados à parede da Casa. O esvaziamento de significação, ou a montagem experimental e irreverente de elementos e cenas pouco roteirizáveis, incorporam a presença de absurdos, conexões sem causalidade, imprevisibilidades burlescas. Um mundo mais imprevisível e menos calculado cria pequenas perturbações no estado das coisas, contando com uma perspectiva criativa daquilo que vemos e está ao nosso redor. Estranhar e deslocar sentidos, embarcar e arriscar a montagem de outras lógicas possíveis.



Referências

  • FÓRUM NICARÁGUA: Cinema de grupo: notas de uma prática entre educação e cuidado. Revista GEMInIS 11.2, 2020: 159-164.
  • GUATTARI, Félix. As Três Ecologias. São Paulo, Editora: Papirus, 2011.
  • MIGLIORIN, Cezar. Cinema e Clínica: a criação em processos subjetivos e artísticos. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2022.


Bio


PT
Bruna Pinna, Psicóloga clínica formada em 2008 pela Puc Rio (Pontifícia Universidade Católica RJ), mestre em Psicologia pelo Programa de Subjetividade, Política e Exclusão Social da UFF (Universidade Federal Fluminense) em 2023. Trabalha no espaço clĩnico coletivo transdisciplinar Casa Jangada onde atua tanto em atendimentos no formato de consultório quanto em grupos clínicos.
Helena Lessa, Bacharel em Cinema e audiovisual pela UFF e mestre em Linguagens Visuais pelo curso de artes visuais da EBA-UFRJ, com o projeto “Rio Carioca: água corrente, rumor” (2022), sob orientação de Tadeu Capistrano. Integrou o coletivo de audiovisual, ilustração e quadrinhos “Osso Osso” (2014-2019), que proporcionou uma série de criações de grupo em diferentes mídias e funções. Elabora peças de design, animação e ilustração, como também realiza obras audiovisuais majoritariamente nas funções de direção, fotografia e montagem. Desde 2019, investiga práticas de criação em grupo, situadas na intersecção entre cinema e clínica, no espaço da Casa Jangada.
Marcia Medeiros, Mestre em cinema pelo PPGCine-UFF. Conselheira da Edt. (Associação de Profissionais de Edição do RJ). Trabalha na área de audiovisual desde a década de 90 como diretora e editora. Editou diversas séries para a TV como Vítimas Digitais e Liberdade de Gênero (de João Jardim - Fogo Azul/GNT), The Voice Kids (Rede Globo), Que Marravilha! (GNT). Como diretora, dirigiu as séries O Bom Jeitinho Brasileiro (Canal Futura), Capoeira no mundo (Tv Brasil) e Globo Ciência (Rede Globo). Dirigiu e editou videoclipes e vídeo-artes sobre diversos artistas como Pedro Luis, Anna Ratto, Carlos Zilio e Anna Bella Geiger. Colaboradora em diversos projetos formativos de interlocução entre Cinema, Educação e Práticas de Cuidado: Redução de Danos - Um olhar de dentro - Min da Saúde - 2003. Revelando os Brasis - MINC-IMA (2004 a 2018). Curta Vitória a Minas - Instituto Cultural Vale e IMA (2016 a 2024). Co-criadora/coordenadora do Projeto Cinequilombola - Sec.Cultura -ES e IMA - e co-coordenadora do Cinemar, oficina de experimentação com imagem, na Casa Jangada-RJ. Atualmente cursando a Formação Livre em Esquizoanálise - FLEA-RJ.


EN
Bruna Pinna, clinical psychologist graduated in 2008 from Puc Rio (Pontifical Catholic University RJ), master in Psychology in the ‘Subjectivity, Politics and Social Exclusion’ Program at UFF (Universidade Federal Fluminense) in 2023. She works in the transdisciplinary collective clinical space Casa Jangada where she works both in office format and in clinical groups.
Helena Lessa, has a bachelor's degree in Cinema and audiovisual from UFF and a master's degree in Visual Languages ​​from the visual arts course at EBA-UFRJ, with the project “Rio Carioca: water current, rumor” (2022), under the guidance of Tadeu Capistrano. She was part of the audiovisual, illustration and comics collective “Osso Osso” (2014-2019), which provided a series of group creations in different media and functions. She creates design, animation and illustration pieces, as well as producing audiovisual works mainly in the areas of direction, photography and editing. Since 2019, she has been investigating group creation practices, located at the intersection between cinema and clinic, in the Casa Jangada space.
Marcia Medeiros, Has a Master's degree in cinema from PPGCine-UFF. Advisor to Edt. (Association of Publishing Professionals of RJ). She has worked in the audiovisual field since the 90s as a director and editor. She edited several TV series such as Digital Victims and Gender Freedom (by João Jardim - Fogo Azul/GNT), The Voice Kids (Rede Globo), Que Marravilha! (GNT). As a director, she directed the series O Bom Jeitinho Brasileiro (Canal Futura), Capoeira no mundo (Tv Brasil) and Globo Ciência (Rede Globo). She directed and edited music videos and video arts about various artists such as Pedro Luis, Anna Ratto, Carlos Zilio and Anna Bella Geiger. Collaborated in several training projects involving dialogue between Cinema, Education and Care Practices: Harm Reduction - An inside look - Min da Saúde - 2003. Revealing Brazil - MINC-IMA (2004 to 2018). Short Vitória a Minas - Instituto Cultural Vale and IMA (2016 to 2024). Co-creator/coordinator of the Cinequilombola Project - Sec.Cultura -ES and IMA - and co-coordinator of Cinemar, an image experimentation workshop, at Casa Jangada-RJ. Currently studying Schizoanalysis - FLEA-RJ.


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