Palavras-chave: arte contemporânea, ecologia, pluralismo ontológico, terra, Otobong Nkanga
Autoras e autores como Anna Tsing, Bruno Latour, Déborah Danowski, Donna Haraway e Isabelle Stengers, defendem que diante da ameaça existencial das mudanças climáticas, as instituições, ferramentas e práticas modernas precisam ser repensadas de maneira inventiva, desacelerada e cuidadosa, rompendo com os modos de fazer dicotômicos, extrativistas e antropocêntricos. Artistas têm sido consideradas/os aliadas/os nesse processo de reinvenção. No entanto, para que a aliança ganhe força é também preciso colocar em xeque os pilares ontológicos da própria arte como instituição e da subjetividade estética moderna e suas formas de imaginar e conhecer o mundo. Referindo-se a luz negra, invisível ao olho humano, como ferramenta “po-ética” ou “Dispositivo Feminista Negro”, Denise Ferreira da Silva convoca uma sensibilidade disruptiva capaz de provocar uma torção de perspectiva do pensamento moderno, na qual o trabalho de arte recusa sua condição de objeto a ser julgado por um sujeito estético universal e transparente.
Para examinar as possibilidades dessa torção, irei discorrer sobre “Landversation” (Terra-conversa) da artista nigeriana Otobong Nkanga. Desenvolvido originalmente para a 31a Bienal de São Paulo, a obra é composta por uma instalação de cinco mesas circulares nas quais comunidades ou indivíduos se dispõem a conversar sobre a terra – sendo a palavra “terra” entendida em sua multiplicidade, ou seja, como solo, chão, território, planeta, etc. Analisando “Landversation” em diferentes exposições em localidades e tempos distintos – no Brasil (2014), no Líbano (2016), na China (2016) e em Bangladesh (2020) –, argumentarei que as variadas perspectivas que a obra conecta em suas trocas dialógicas apontam para um compromisso ou pluralismo ontológico (Stengers) crucial para resistir ao sujeito estético moderno. Tal pluralismo reconhece que a T/terra é vista e pensada de muitos modos para além da metafísica que o Ocidente elegeu como universal (Costa). Assim, irei refletir sobre quais instâncias o versar (ou “com-versar”) em “Landversation” contribui para expressar divergentes e incompatíveis versões da T/terra (Maniglier), delineando uma virada ontológica na arte.
p>
PT
Luiza Proença é doutoranda em Filosofia pela PUC-RIO, com ênfase em estética e a questão ambiental. Integra o Terranias – Núcleo Transdisciplinar de Pensamento Ecológico (PUC Rio/CNPq) e colabora com o projeto A Terra e Nós (PUC-Rio/CNPq), está responsável pela organização do Campus Antropoceno Brasil (2022) e América Latina (2024). Foi curadora residente no campo de trabalho comunitário/social da Akademie Schloss Solitude em Stuttgart e no centro de arte contemporânea Zamek Ujazdowski em Varsóvia (2022 e 2023). Trabalhou nas equipes curatoriais do Museu de Arte de São Paulo, da 31ª Bienal de São Paulo, da 9ª Bienal do Mercosul, do projeto bauhaus imaginista (HKW), entre outros. Em 2018, foi nomeada para o prêmio internacional Independent Vision Curatorial Award, Nova York. Editou os livros “Concreto e cristal: o acervo do MASP nos cavaletes de Lina Bo Bardi” (com Adriano Pedrosa; Cobogó, 2015) e “Museum Futures” (com Leonhard Emmerling, Latika Gupta e Memory Biwa; Turia + Kant, 2021), entre outros.
EN
Luiza Proença is a PhD student in Philosophy at PUC-RIO, with an emphasis on aesthetics and environmental issues. She is a member of Terranias – Transdisciplinary Center for Ecological Thought (PUC Rio/CNPq) and collaborates with the project A Terra e Nós (PUC-Rio/CNPq), and is responsible for organizing the Campus Antropoceno Brasil (2022) and Latin America (2024). She was resident curator at the community/social work camp at Akademie Schloss Solitude in Stuttgart and at the Zamek Ujazdowski contemporary art center in Warsaw (2022 and 2023). She worked on the curatorial teams of the São Paulo Museum of Art, the 31st São Paulo Biennial, the 9th Mercosul Biennial, the bauhaus imaginista project (HKW), among others. In 2018, she was nominated for the international Independent Vision Curatorial Award, New York. She edited the books “Concrete and crystal: the MASP collection on the easels of Lina Bo Bardi” (with Adriano Pedrosa; Cobogó, 2015) and “Museum Futures” (with Leonhard Emmerling, Latika Gupta and Memory Biwa; Turia + Kant, 2021), and others.