Águas alternativas: memória e futuro da cidade

Rafael Victorino Devos, Viviane Vedana, Priscila Oliveira dos Anjos, Gabriel Luz Siqueira Aquino Vieira, Luana Silva Ferraz

Palavras-chave: água, abastecimento urbano, documentário, antropologia, antropoceno mais-que-humano


PT

Em 2019 ocorreu uma forte estiagem em Santa Catarina, com a falta de chuvas agregada a uma maior demanda por água potável. Nos anos seguintes desenvolveu-se um Plano Municipal de Saneamento Básico em Florianópolis, com ações para ampliar e garantir a capacidade de produção de água dos sistemas centralizados de saneamento, com destaque para mananciais estratégicos a serem transformados em reservas para a região. Entre tais mananciais, estão aquíferos e nascentes em encostas de morro utilizados historicamente por habitantes de regiões menos favorecidas pelas infraestruturas urbanas. Essas pessoas desenvolveram seus próprios sistemas de abastecimento, administrados de forma coletiva por associações de moradores, que se transformaram ao longo dos anos enfrentando os desafios locais da habitação urbana atentas às ecologias das águas. Na Ilha de Santa Catarina, o abastecimento urbano de água é centralizado por uma empresa estatal, como em muitos municípios do país. No entanto, algumas comunidades não conectadas, ou conectadas parcialmente a tais infraestruturas centralizadas de água e esgoto desenvolveram seus próprios sistemas coletivos alternativos de abastecimento de água. São infraestruturas que conectam o cotidiano e a história de morros e planícies costeiras a cachoeiras, nascentes, aquíferos, reservatórios, hidrômetros e encanamentos. No documentário “Águas alternativas” estas são apresentadas por seus cuidadores - moradores, técnicos e membros de três associações de moradores que cresceram em torno dessas águas. Desde 2021 acompanhamos o cotidiano e a história de algumas dessas associações que se tornaram uma alternativa qualificada no abastecimento de água na cidade, em um projeto de pesquisa em antropologia, em sintonia com os “estudos da água” e das relações multiespécies, mais-que-humanas. Estão vinculados à pesquisa um projeto de doutorado e projetos de iniciação científica. Além do filme e trabalhos acadêmicos, o projeto realiza ações de divulgação científica em um website compartilhando com esses cuidadores das águas uma reflexão sobre as alternativas de abastecimento de água para o futuro. Com os cuidadores das águas, seguimos no audiovisual os fluxos das águas alternativas: brotando nas nascentes; descendo dos morros; encanada e distribuída; tratada e acumulada nos reservatórios; correndo nos hidrômetros e torneiras; escorrendo pelos bueiros e infiltrando no solo, com a chuva. As narrativas dos cuidadores abastecem a história de suas comunidades. As imagens seguem enunciações das águas na paisagem. A paisagem sonora evoca suas traduções: água bruta na captação, bombeada, filtrada, reservada, tratada, cuidada ao longo das infraestruturas.



EN

In 2019, there was a severe drought in Santa Catarina, with the lack of rain coupled with a higher demand for drinking water. In the following years, a Municipal Basic Sanitation Plan was developed in Florianópolis, with actions to expand and ensure the capacity of water production from centralized sanitation systems, with emphasis on strategic water sources to be transformed into reserves for the region. Among such sources are aquifers and springs on hillside slopes historically used by inhabitants of regions less favored by urban infrastructure. These people developed their own supply systems, managed collectively by neighborhood associations, which have transformed over the years, facing the local challenges of urban habitation attentive to the ecologies of water. On the Island of Santa Catarina, urban water supply is centralized by a state-owned company, as in many municipalities in the country. However, some communities not connected, or partially connected, to such centralized water and sewage infrastructures have developed their own alternative collective water supply systems. These are infrastructures that connect the daily life and history of hills and coastal plains to waterfalls, springs, aquifers, reservoirs, water meters, and pipelines. In the documentary "Alternative Waters," these are presented by their caretakers - residents, technicians, and members of three neighborhood associations that grew around these waters. Since 2021, we have been following the daily life and history of some of these associations that have become a qualified alternative in water supply in the city, in an anthropology research project, in tune with "water studies" and multispecies, more-than-human relations. A doctoral project and undergraduate research projects are linked to the research. In addition to the film and academic work, the project carries out scientific dissemination actions on a website, sharing with these water caretakers a reflection on water supply alternatives for the future. With the water caretakers, we follow in the audiovisual the flows of alternative waters: springing from the sources; descending from the hills; piped and distributed; treated and accumulated in reservoirs; running in water meters and taps; flowing through sewers and infiltrating the soil, with the rain. The caretakers' narratives nourish the history of their communities. The images follow the enunciations of the waters in the landscape. The soundscape evokes their translations: raw water at the capture, pumped, filtered, stored, treated, cared for along the infrastructures.



Referências

  • ANAND, Nikil. Hydraulic City: Water and the Infrastructures of Citizenship in Mumbai. New Delhi: Oxford University Press, 2017.
  • HARAWAY, Donna; ISHIKAWA, Noboru; GILBERT, Scott F; OLWIG, Kenneth; TSING, Anna L. & BUBANDT, Nils. Anthropologists Are Talking – About the Anthropocene. Ethnos, Londres, v. 81, n.3, p. 535-564, 2016.
  • MORITA, Atsuro. From Gravitational Machine to Universal Habitat: The Drainage Basin and Amphibious Futures in the Chao Phraya Delta, Thailand. Engaging Science, Technology, and Society, Milwaukee, v. 3, p. 259-275, 2017.
  • PIEROBON, Camila., & FERNANDES, Camila. Cuidar do outro, cuidar da água: gênero e raça na produção da cidade. Estudos Avançados, São Paulo, V. 37, n.107, p. 25-44, 2023.
  • TSING, Anna. Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno. Brasília: IEB; Mil Folhas, 2019.


Bio


PT
Rafael Victorino Devos - docente - Departamento de Antropologia UFSC
Viviane Vedana - docente - Departamento de Antropologia UFSC
Priscila Oliveira dos Anjos - Doutoranda - PPG Antropologia Social UFSC
Gabriel Luz Siqueira Aquino Vieira - Mestrando - PPG Antropologia Social UFSC
Luana Silva Ferraz - Graduanda - Antropologia - UFSC


EN
Rafael Victorino Devos - Professor - Department of Anthropology at UFSC
Viviane Vedana - Professor - Department of Anthropology at UFSC
Priscila Oliveira dos Anjos - Doctoral student - PPG Social Anthropology UFSC
Gabriel Luz Siqueira Aquino Vieira - Master's student - PPG Social Anthropology UFSC
Luana Silva Ferraz - Student - Anthropology - UFSC


VOLTAR


^